quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Ciro

CASCAVEL - Hoje fotografei o Ciro Stringari, conforme vocês podem ver. Essas duas fotos, de uma época em que muito convivemos, estavam a poucos palmos do próprio Ciro, que repousava bem mais miúdo, cercado de parte dos amigos que amealhou em seus 48 anos de vida, uma vida que chega ao fim depois da última de suas corridas, uma corrida de vários participantes, todos eles contra um só, o mal que o levou.

Ciro, ou Cícero César, foi parceiro do início de carreira, no caso o meu. E o dele, também, quando fez as aceleradas de aluguel virarem coisa mais séria, em campeonatos oficiais. Colecionou títulos – três deles de âmbito Paranaense, nas categorias Speed Fusca, Endurance Speed e Marcas & Pilotos, os dois primeiros em 1998, o último em 2001, quando aposentou o carro de corridas e o macacão. Voltou a correr em 2003, Cascavel já tinha um campeonato atrativo o suficiente para tal. Ganhou mais dois títulos e aposentou o macacão de vez.

Mesmo longe do autódromo, Ciro não ficava longe do automobilismo, que invariavelmente pautava os papos dos nossos encontros já mais parcos e sempre casuais. O último deles há três ou quatro meses, e havia anos que não o via. Não sei o que fazia na rua por volta das sete da manhã, levantei cedo para algo que assim exigia, e encontrei o Ciro na pastelaria, eu tomando o meu café, ele, o dele. Dividimos a mesa e alguns minutos de uma sensação de reencontro só não mais agradável por conta do drama que ali ele relatava, da doença que o havia afastado dos afazeres costumeiros. Pediu e anotou meu número de telefone, prometeu ligar para combinar um café, já que da cerveja estava afastado havia tempos. Dispensou minha oferta do café, pagou o dele e o meu e foi embora. Fui revê-lo hoje, miúdo, inerte, sem vida.

Semara, a esposa, a seu lado permaneceu até a última volta da corrida – num primeiro estágio, fazendo o possível para nela mantê-lo; num segundo, já permitindo que Ciro fizesse o pit stop que o esforço hercúleo para viver já lhe exigia. Contou-me que, dias antes de dar entrada pela última vez no hospital, Ciro pediu para visitar o Jorge, pessoa que vi-o equiparar em carinho ao próprio pai. Falava de Jorge Stumpf, o chefe de equipe com quem criou forte laço, que o acompanhou da primeira à última acelerada. A quem amava. Prometeu, Semara, que providenciaria a visita solicitada para dias depois, quando ele, Ciro, estivesse menos fraco. Não houve tempo. Jorge também foi vê-lo instantes atrás.

Durou pouco minha visita ao Ciro, e não teve café, esse fica para uma outra corrida. Durou pouco, também, o Ciro. Tinha 48 anos, uma devoção invejável pela companhia dos dois filhos e energia de dar inveja. Foi essa energia seu combustível na corrida que terminou ontem à noite. Foi uma das poucas que Ciro acabou perdendo.

1 comentários:

Francis Henrique Trennepohl disse...

Não pude conhecer o Ciro pessoalmente por desencontros da vida, mas mesmo sem conhecê-lo sempre tive um profundo respeito e admiração por tudo que ele fez pelo Automobilismo Paranaense.
Um abnegado, apaixonado e perseverante.
Mesmo sem conhecê-lo, chorei lendo esse texto, especialmente sobre a visita dele ao Stumpf.
Vai com Deus, Ciro. O Automobilismo está mais triste sem um cara como você!