segunda-feira, 28 de junho de 2010

Do arquivo das duas rodas

Os quase meia dúzia de leitores do BLuc começaram a telefonar para a casa da minha mãe. Eu morri, devem ter pensado. Afinal, este espaço que aceita tudo - e que por isso destoa de seu autor - ficou esquecido por duas longas semanas.

Um dos leitores/eleitores descobriu o número do meu celular. Que tocou às dez da madrugada, interrompendo meu sono profundo e sagrado. "Põe qualquer porcaria no blog", esbravejou, sem medo de perder o esporádico emprego.



Não que eu veja no Pirelli Superbike uma porcaria. Bem pelo contrário, é um campeonato de altíssimo nível. Tem sido, inclusive, a dose que faltava para me atrair de vez à motovelocidade - sempre, involuntariamente, mantive-me alheio às corridas de motos, sem despender a elas a quase antipatia que guardo pelas arrancadas. Tem solução, também, esta questão das arrancadas.

Quase por acaso, achei hoje no YouTube - ou "VocêTubo", como definiria meu guru Flavio Gomes - a corrida da categoria Superbike, que narrei em Interlagos no domingo de Páscoa, e lá se vão quase três meses. Ali acima, a primeira metade da corrida. No vídeo aqui de baixo, seu complemento. Só recomendável para quem tiver paciência suficiente para aturar a minha narração.



Quanto a meu parco eleitorado, uma dica: vão arrumar o que fazer da vida!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Que país é esse?

Quando meu dia começa fora de casa, percebo que não será um dia normal. Abro meus despachos da terça na Câmara Municipal, onde invariavelmente passo para tomar o cafezinho que, de modo ou outro, ajudo a pagar. Da sala onde sempre há uma garrafa térmica à minha espera, há uma porta que dá para o plenário. Surpreendo-me com a imagem dos vereadores em plena sessão, todos, digamos, uniformizados. Um golpezinho de mídia, coisa do gênero, penso. Deve ter sido qualquer coisa assim, mesmo.

Bem, os vereadores torcem pela seleção brasileira, hoje tem jogo do Brasil contra um time de coitados não sei de onde, vale pontos no torneio mundial. Que torçam, pois. E de lá saio, café tomado e alguns números do sorteio do fusca vendidos, atravesso a rua e vou para o segundo tempo do café, no bar da Iraci. Penso que haverá uma festinha infantil, lá, tantos são os enfeites, frescuras e motivos verde-amarelos empregados na decoração. Iraci, a dona do Rotativo’s (não sei se tem esse apóstrofo, mas todo dono de boteco usa achando que é chique, então ponho-o por minha conta), não ateve-se só ao bolão do jogo, que está promovendo a exemplo de praticamente todos os outros botecos. Locou telão, comprou alcatras e vai reunir a freguesia na hora do jogo. Estarei lá, claro, alcatra com cerveja numa terça à tarde é coisa que não aprecio já faz uma semana.

Como nem só de café vive o homem, mas também de toda comida preparada pela dona Judith, vou filar um almoço na casa da sogra. No caminho, chamam atenção os dezenas, centenas, sei lá, de automóveis que transitam com bandeirinhas do Brasil anexadas. Parecidas com a que ganhei no Posto Maçarico, e com a qual o Luc Jr., que pela pouca idade ainda não tem a noção de certos comportamentos indevidos, estava comemorando, agora de manhã, exclamando “Brasil”, devidamente armado com sua minivuvuzela, que sei lá onde conseguiu. Juli deve ter comprado pra ele, preciso alertá-la para parar de jogar dinheiro fora. De real em real, o Luc compra um fusquinha, afinal. E ela que não venha me retrucar por eu ter assinalado dois palpites no bolão que o Maçarico está fazendo. Jogo é investimento, brinquedo para crianças é supérfluo, tenho dito.

Saio da casa da sogra, ambiente sempre pouco recomendável a qualquer cidadão de sã consciência, e percebo que a brasilidade em sua essência começa a contaminar todo mundo. Bandeiras na parede da casa da vizinha. Na parede da papelaria, as Meninas Superpoderosas, que sempre estiveram ali, dividem seu espaço com uma decoração modesta. Casas e mais casas decoradas com bandeirinhas, coisinhas frufrus em verde e amarelo, até o anúncio da concessionária Renault parece ter inspiração na Copa – e vendo-o, lembro que tenho de mandar meu Clio para a revisão dos 30 mil km, embora já tenha passado dos 35 mil.

Como já previ numas linhas mal traçadas que postei aqui outro dia, tudo parece girar em torno de um jogo de futebol. Desde a moça que espera angustiada por algo ou alguém à porta da escolinha. Ela veste uma camisa amarela com o nome do país estampado, não imagino que em homenagem aos bons exemplos dados pelo Brasil a seus companheiros de mapa mundi. A própria escolinha, pelo horário, parece estar à frente de um televisor esperando o jogo começar. Erma. Perto da uma da tarde, horário de pico nesse tipo de estabelecimento. Na escola do Luc Jr., por exemplo, haveria atividade só até as três da tarde, teria de deixá-lo lá e já em seguida buscá-lo de volta, então o fedelho já está escalado para me acompanhar na jornada inglória ao boteco, onde ele sempre se esbalda com porcarias calóricas.

É coisa que não me entra na cabeça essa manifestação de inexistente patriotismo. A moça da frente da escola, a Iraci, os vereadores, o motorista da S10, o dono da livraria que deve ter uma filha fã de Docinho, Florzinha e sei lá o nome da outra mini-heroína, a vizinha da minha sogra, todos são pessoas que, com maior ou menor intensidade, têm alguma mágoa do Brasil. Não do Brasil, mas dos problemas com que afronta seu povo a cada momento, todos os lugares-comuns que levam todo cidadão a assumir uma posição diante de qualquer coisa. Não é todo dia que se veem brasileiros orgulhosos da flâmula verde-amarela-branca-azul-anil.

Precisam 11 atletas entrarem em campo bem longe daqui, onde entre a multidão só haverá uma das pessoas que conheço - o Osires Júnior -, para que o Brasil valha a pena, ainda que por 90 minutos. Isso se houver resultado favorável aos atletas de camisas amarelas, o mesmo amarelo que hoje vi em carros, casas e corpos. Sim, tudo indica que sairão, os de amarelo, vencedores do confronto. Se não saírem, os atletas e seus mentores serão também motivo do ódio e da mágoa de uma nação.

Coisas estranhas, essas do Brasil. Mas seu povo, a maioria dele, está feliz, hoje tem futebol, todos vão deixar seus afazeres de lado para honrar a pátria, afinal dela somos filhos.

Renato Russo morreu sem que lhe respondessem uma de suas perguntas mais contundentes, essa que transcrevi lá em cima. Não se iluda. Você e eu também partiremos para outro plano sem essa resposta.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Le Mans, as 24 Horas no Speed

Os fãs do automobilismo de resistência não vão depender apenas dos layouts quadriculados das súmulas de cronometragem para o acompanhamento das 24 Horas de Le Mans. A corrida vai ter transmissão ao vivo, também, pelo Speed Channel.

Foi o que anunciou há pouco Sérgio Lago, o faz-tudo do canal automobilístico, em chamada telefônica de Los Angeles, de onde comanda as transmissões do Speed.

As 24 Horas, pelo horário de Brasília, terão largada às 10h deste sábado. Meia hora antes, o Speed estará no ar trazendo todo o ambiente pré-corrida. A transmissão de Le Mans vai até as duas da tarde, quando entra no ar a etapa de Michigan do Camping Truck Series, que terá Nelsinho Piquet na pista.

Quando terminar a corrida em Michigan, isso deve acontecer por volta das 16h30, o Speed volta com as 24 Horas de Le Mans. Que permanecerão no ar até as oito da noite, quando a grade acolhe a etapa do Kentucky da Nationwide Series.

A transmissão da 78ª edição da corrida francesa será retomada, sempre pelo horário brasileiro, às 7h do domingo, três horas antes da bandeirada final. Toda a festa dos vencedores, pódio e entrevistas também serão mostrados.

Recomendei a Sérgio a providência de suprimentos extras de Red Bull ou qualquer coisa equivalente. Ele e seu fiel escudeiro Roberto Figueiroa vão transmitir ao vivo, de L.A., todas as corridas aqui mencionadas. Vá ter fôlego assim lá na Califórnia!

Até a largada – e mesmo durante a corrida –, quem estiver a fim de saber mais sobre as 24 Horas de Le Mans pode, ou deve, consultar o blog do Rodrigo Mattar, o A Mil Por Hora. Há dias, o colega carioca tem abastecido o espaço com informações e dados sobre a disputa. Mattar, em se tratando de televisão, é do time do SporTV, nada tem a ver com o Speed.

No Brasil, é quem mais domina o conhecimento das corridas de longa duração. Um doente pela coisa, em resumo.

Contra o lixo publicitário

Via de regra, sou um sujeito que não acredita no que alguns definem como o poder da publicidade. Vá lá que trate-se de uma indústria que movimenta milhões de dinheiros a cada fração de tempo, a que se atribuem todas as tendências do consumismo, o diabo a quatro. Mas não corro tomar uma Coca-Cola quando passa um comercial da bebida na TV, nem deixo de abastecer no posto Maçarico porque a fornecedora de combustíveis concorrente bolou um comercial bacana.

O errado sou eu, vide como o mundo funciona. A propaganda é a alma do negócio, e quem não é visto não é lembrado, e poderia aplicar aqui uma porção de outros clichês, como os utilizados pelas redes hoteleiras, já que em todo canto há um hotel que é sua casa fora de casa, ou toda cidade tem uma gráfica que se anuncia fazendo algum trocadilho sobre a primeira impressão.

E não há, como bem lembra o primeiro-churrasqueiro Nardão Kracieski, loja de materiais de construção que não ofereça tudo do piso ao teto, nem estabelecimento que lance promoções na linha a-loja-faz-aniversário-mas-quem-ganha-o-presente-é-você.

Mas há sistemas de publicidade que extrapolam alguns limites. O que mais me tira do sério é o da panfletagem. Contratam agências especializadas nisso, que literalmente socam goela abaixo do consumidor suas peças. É cotidiano, já, chegar em casa e ter de tirar da maçaneta o folheto ou o fôlder que alguém deixou enroscado ali, na vã esperança de me fazer ler ou ver alguma coisa.

A partir de hoje, vou começar a listar aqui as empresas, grupos ou prestadores de serviços que abarrotam as maçanetas do portão de casa, ou dos meus carros, ou mesmo minhas caixas de correio, com panfletos, jornais e o escambau. A caixa de correio, pensando bem, até passa, pego a publicidade junto com a correspondência, separo e jogo fora – aliás, a maior parte da minha correspondência vai para o lixo, invariavelmente.

A partir de hoje é lei aqui em casa: não compramos, usamos ou contratamos mais nada que se faça anunciar enroscando papel nas minhas maçanetas. Poderia colocar um monte de nomes aqui, já, mas vou adotar o princípio (?) do Projeto Ficha Limpa, só vai pra lista quem colocar lixo nas nossas portas a partir de hoje.

A primeira é cadeia de lojas Ponto Frio. Bem hoje, dia de começo de Copa do Mundo, eu pensando em comprar um LCD de 180 polegadas pra ver os jogos... Vou dar uma circulada depois e visitar HM, Casas Felipe, Buri ou Arapuã para consultar as ofertas pessoalmente.

(ATUALIZANDO EM 14 DE JUNHO, ÀS 10h53)
Em polvorosa por ter sido citado no BLuc, o colega jornalista Ronaldo Kracieski, que entre o preparo de um jantar e de outro faz um biscate como assessor de imprensa da Câmara de Vereadores de Cascavel, revela que a desagradável prática de se anexar panfletos nos automóveis também fere a lei.

Explica o escriba-cozinheiro que a lei 4.593/2007, criada pelo então vereador Juarez Berté, alterou o chamado Código de Posturas do Município, determinado pela lei 2.027/1989. O projeto de três anos atrás proíbe a colocação de impressos nos automóveis, permitindo somente a entrega em mãos. Não há menção sobre caixas de correspondência ou portas de imóveis.

Anexar panfletos aos automóveis, portanto, é contra a lei. Mas tudo em Cascavel é contra a lei, já que para nada há fiscalização e, quando há, é corrupta – basta analisar como funcionam as regulamentações para casas noturnas.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

E o Brasileiro de Marcas, ninguém transmite?

Ano passado, a CBA retomou o Campeonato Brasileiro de Marcas & Pilotos. Com um formato bastante questionado, a temporada inteira desenvolvida em um único fim de semana, quatro baterias. Era lógico que, em qualquer das pistas, haveria uma regionalização do grid. Um preço pelo formato, nem tudo no mundo é perfeito.

O Brasileiro acabou acontecendo aqui em Cascavel, e dos 21 pilotos que largaram, 11 ou 12 são cascavelenses, posso estar pecando na exatidão dos números, não fui consultar anotação nenhuma. Nunca faço anotações, defeito grave para quem exerce o jornalismo de uma forma ou outra. Dos cinco pilotos que foram ao pódio final, quatro de Cascavel – Marco Romanini, Adriano Reisdorfer, Luís Fernando Pielak e Ingmar Biberg, nesta ordem, intercalados pela presença do gaúcho Luciano Cardoso, quarto colocado.

As quatro corridas aconteceram no meio de novembro. Uma das exigências da CBA, avalizada pela Federação Paranaense, ou vice-versa, era de que os automobilistas de Cascavel teriam de se virar com o televisionamento das corridas. Era requisito indiscutível para a cidade ter a sede da competição. Uma exigência que Nestor Valduga, dirigente do primeiro escalão da entidade nacional, reforçou a mim em fins de setembro no Rio de Janeiro, durante evento da GT3 Brasil, onde eu atuava como locutor de arena.

Miguel Beux, capitão do barco do Automóvel Clube de Cascavel – e por aqui o presidente sempre trabalha sozinho –, viabilizou a geração de imagens e a transmissão. O Bandsports mostraria ao vivo as duas baterias finais, não mostrou, acho que mostraram depois. Beux, e eu fui um dos que o alertaram quanto a isso, iludiu-se com a promessa de que haveria 60 pilotos inscritos. Foram, repito, 21. E assim, com um prejuízo financeiro que só interessou ao clube cascavelense, fez-se o embrião do campeonato. Falhas foram verificadas e apontadas, tudo para que houvesse reparações em edições futuras.

Para 2010, o Brasileiro de Marcas & Pilotos teve seu formato um tanto mudado. Serão dois eventos, o primeiro deles agora, neste fim de semana, no autódromo de Tarumã, com três etapas – uma no sábado e duas no domingo. Outras três corridas acontecerão também em fim de semana único no autódromo de Curitiba, não sei a data. Cascavel, mais uma vez, entra na disputa com bom número de pilotos, oito ou nove embarcaram seus carros para Viamão.

Chama atenção o fato de não haver notícias sobre transmissão das corridas pela TV. Mal há divulgação acerca disso, só quem sabe da existência do campeonato são as pessoas que com ele têm algum tipo de contato, caso meu.

Adotam-se pesos e medidas diferentes nos campeonatos dos dois anos consecutivos. E as três primeiras corridas, as que ninguém que não estiver no autódromo vai ver, por não haver televisionamento, acontecerão no Rio Grande do Sul. Terra onde Valduga, o mesmo que me reiterou a exigência de viabilização da transmissão na TV pelos organizadores de Cascavel em 2009, é um dos dirigentes mais influentes.

Pode ser só coincidência, também. Jornalistas e blogueiros costumam encher o saco por qualquer coisa.

Máfia dos comissários? Eita.

As suspeitas de coisas erradas em tudo nessa vida, por vezes, costumam transcender os limites do imaginável.

Hoje pela manhã, por exemplo, acompanhei no Twitter uma sequência de comentários postados pelo colega paulistano Bruno Vicaria, que cobre as corridas de vários campeonatos de automobilismo pelo site Tazio.

As constatações a que alude em seus posts no microblog são da quinta etapa da Stock Car, que aconteceu no último fim de semana em uma pista de rua em Ribeirão Preto. Pista que, pela falta de condições técnicas para uma disputa automobilística, foi alvo de críticas por parte de pilotos, de jornalistas e de apreciadores da categoria.

Observador e “fução”, como todo repórter deve ser, Bruno, que é gente da melhor qualidade, apesar da questionável preferência futebolística – é palmeirense, o desgraçado –, deve ter seus motivos para expor o que pensa. Exposição feita em oito tópicos, que respeitam o limite de 140 caracteres do Twitter, como seguem:

Uma constatação do fim de semana: o Brasil está carente de comissários decentes. É sempre a mesma turma, a mesma máfia liderada pelo Valduga.

O comissário pode ser o melhor, mas, se não agrada o presidente do CTDN, não é selecionado. Temendo mais cortes, o comissário não reclama.

Além disso, o comissário pode ter tomado a atitude certa. Se a atitude não agrada o presidente do CTDN, o comissário é limado.

Ou seja: tem muita gente boa na geladeira; apenas os que colocam o rabo no meio das pernas seguem trabalhando. Por isso, todos os salseiros.

Obviamente, tudo o que eu disse não será confirmado por nenhum comissário. Por medo de retaliações. E assim o automobilismo brasileiro segue.

Uma pergunta: existe curso de formação de comissários? Ou só precisa ter o 2º grau? Sem gente idônea para julgar, não há esporte que viva.

Existem muitos comissários bons, mas infelizmente eles são obrigados às vezes a cumprir ordens que colocam suas próprias reputações em jogo.

Mas esse mal de ervas daninhas no esporte também é visto no futebol. E nada muda. Se ninguém levantar a bandeira, nada acontecerá. Uma pena.


Instantes depois, Américo Teixeira Júnior, também via Twitter, tomou a liberdade de fazer um aparte. Também integrante da minha lista de ótimos amigos e ótimos profissionais que não sabem torcer para um bom time - o dele é a Portuguesa -, o jornalista da cidade de Vinhedo atuou na Confederação Brasileira de Automobilismo por oito anos, de março de 2001 a março de 2009, como assessor de imprensa. Nesse período, o presidente da CBA foi o advogado Paulo Scaglione. Hoje, Américo edita o site Diário Motorsport e responde pelo trabalho de divulgação do piloto Helio Castroneves no Brasil.

O que Américo escreveu no Twitter:

@bruno_vicaria Permita-me dizer que Paulo Scaglione criou um centro para formação de comissários, CEOC, que não existe mais na atual gestão.

CEOC, que vinha a ser o Centro de Excelência para Oficiais de Competição, suas atividades tinham espaço reservado nas instalações do autódromo de Interlagos.

Para todas as observações feitas pelos colegas jornalistas, sobretudo as de Bruno, há contrapontos, contestações, vão dizer que cabe ao acusador o ônus da prova, essas coisas todas. Bruno, apesar de palmeirense, não é um bobo. Penso que se decidiu tornar público o que tinha consigo, cabe - ou deveria caber - a quem de direito investigar e punir.

Quanto a isso, confesso, não tenho dúvidas. Ou vão punir quem eventualmente fomente uma indústria corrupta de manipulação do trabalho dos profissionais, ou vão punir Bruno Vicaria por blasfêmia. Palpites?

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O câncer, Gilnei e Kau

Nesta semana perdi um amigo. Gilnei Faoro, ex-piloto e sarrista dos bons, entregou os pontos na luta contra o câncer, falei dele aqui ontem. O câncer, essa maldição que sacrifica tantas vidas a cada fração de tempo.

Exemplos não faltam, e é bem possível que cada indivíduo tenha um a citar, de que o câncer tem deixado gradualmente de ser sinônimo incondicional da morte. Ao mesmo tempo que que lamento a partida de Gilnei, sinto-me feliz pela vitória de outro amigo, também piloto, em sua luta contra a doença.

Cleudir José Machado, o "Kau", a quem não vejo já há um bom tempo, passou maus bocados. E os superou. Cito seu exemplo transcrevendo cá, ipsis litteris, matéria assinada pelo meu sócio Clóvis Grelak, que foi publicada pela revista Diference.

A CORRIDA PELA VIDA NA LUTA CONTRA O CÂNCER
Do diagnóstico à cura, o drama vivido pelo piloto Kau Machado

Parte I – A vida como era
Tudo transcorria bem com a vida do empresário e piloto de carros curitibano Kau Machado até o início de 2009. Família unida e os negócios indo bem, apesar dos prenúncios da crise mundial que se avizinhava, nada poderia supor surpresas desagradáveis. Muito menos com relação à sua saúde, pois não tinha vícios e cuidava do corpo com a dedicação de atleta, que era. Mas os fios que tecem a linha da vida por vezes revelam meandros inesperados, alguns terríveis. Assim, o quê para Machado era um sintoma de gripe que o acometera num fim de semana quando voltava de sua fazenda em Guarapuava, revelou-se ser leucemia.

Parte II – O encontro com a doença
Apesar da estrutura espiritual e do desapego das coisas mundanas, Kau sofreu um duro golpe quando o médico o reuniu à família para comunicar o diagnóstico. A doença era Leucemia Mielóide Aguda, uma alteração genética em que células tornam-se cancerosas podendo ocasionar tumores na pele e meningite. “Pedi a Deus que, se eu fosse merecedor, que eu sobrevivesse, que o tratamento não fosse doloroso, que Ele me ajudasse”, revela o piloto. Ele reuniu a família, a esposa Eva Márcia e os filhos Eduardo (26), Andressa (23) e Mayara Carolina (17), e distribuiu a função de cada um nós negócios e na entidade social que mantém. “Informei-os de que, a partir daquele momento, tudo era com eles. Eu iria lutar pela minha vida”, relembra emocionado.

Parte III – A luta pela vida
O tratamento foi longo, penoso. Ele ficou 105 dias internado, dos dez meses em que se tratou, no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, pelas mãos do doutor Eurípedes Ferreira, considerado uma referência no transplante de medula. “Além da competência do doutor Eurípedes, do doutor Selmo e da equipe, suas humanidades e espírito de doação são ainda maiores”, reconhece Kau Machado. “Jamais esquecerei o que fizeram por mim”. Machado reagiu bem às aplicações de quimioterapia, mas também considera que seu condicionamento de automobilista ajudou-lhe a manter o foco na cura, “na concentração, para segurar a barra”, segundo suas palavras, sobretudo nos períodos em que ficou isolado da família e de todos no hospital.

Parte IV – A rede irmanada e a cura
Além da fé em Deus, da competência médica e do apoio da família os amigos foram determinantes para sua cura. Grupos do meio automobilístico e outros se irmanaram numa rede de orações e apoio espiritual, com mensagens que chegavam a Kau no hospital por meio da esposa Eva Márcia, e de logística, para doação de sangue. “Houve o caso de uma funcionária anônima do HSBC, a qual não consegui ainda descobrir quem é, para agradecer-lhe, que mobilizou pessoas para doar o sangue que eu necessitava”, destaca. Esse processo, como é comum nesses casos, lhe permitiu uma introspecção profunda, buscando no recôndito d’alma reavaliar a vida. “Entendi que Deus me deu uma segunda chance”, ele crê. Dia 07 de março de 2010, os exames mostraram curado. Já até marcou sua voltas às pistas na metade deste ano, no evento Stock Car, na categoria da Pick Up Montana. “Para provar a mim mesmo que estou como antes”, frisa.

Parte V – Solidariedade
Kau Machado mantém há 15 anos o projeto social ‘Natal das Crianças Pobres’, em Palmital, Paraná, cidade onde passou sua infância pobre. Um trabalho que define como de “conscientização social”, em que distribui presentes de natal para aproximadamente 600 crianças pobres além de cestas básicas para as mães delas. Foram 144 cestas em 2009, com previsão de 350 para o natal deste ano. “Conheci as necessidades quando era pequeno, por isso ajudo essas pessoas carentes”. Em uma dessas ajuda a que se refere, encaminhou a Curitiba para tratamento uma daquelas crianças, que tinha deficiência de crescimento, e viabilizou o tratamento adequado. “Possibilitar isso àquela criança é como devolver um pouco do que Deus me deu”, diz com um sorriso que quase se transformou em lágrimas ao término da entrevista. Ressalte-se ainda que, quando da reunião em família no hospital, ao tomar conhecimento do diagnóstico, manifestou desejo expresso de continuidade do projeto social, sob qualquer circunstância. Esse ato de nobreza num momento em que se via numa esquina da vida, já vale uma existência.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Bad feelings

Impossível, por motivos óbvios, sair de um velório com boa sensação. Mas, até para uma circunstância mórbida como uma despedida dessa, percebi algo bem esquisito agora à tarde, quando fui dar meu até logo ao Gilnei Faoro.

Gilnei, para os que não o conheceram, foi piloto de corridas aqui no Paraná. Conheci-o em fim de carreira, já em participações esporádicas na Copa Corsa, ao mesmo tempo em que tratava de garimpar patrocínio e espaços em mídia para mostrar o bom início de carreira do filho Gabriel no motocross. Fez sucesso e fama, Gilnei, nas corridas de Hot-Dodge, categoria que ajudou a criar nos anos 80. Ajudou a fomentar o automobilismo e, principalmente, a contar a história do automobilismo daqui, sempre do jeito debochado e irreverente que foi marca sua.

Despedir-se de um amigo é sempre ruim, apesar da promessa de que haverá o reencontro nalgum lugar, aquela balela toda que ninguém pode mostrar preto no branco, e por isso é que vejo algum sentido em nossa vida medíocre. Chamou-me atenção a atitude do padre que rezou a missa no velório. Encerrou-a aos prantos, mas pedindo alegria, citou Cristo, a promessa do reencontro, todas essas coisas.

O time, o nosso time, dos tarados por corridas dos carros, tem diminuído com assustadora rapidez. Estamos, nós do automobilismo aqui de Cascavel, perdendo amigos, adversários, ídolos, referências. Pior, estamos perdendo pessoas.

Meio besta, essa nossa vida. Para Gilnei, a partir de hoje, vida nova. Foi o que o padre prometeu.