domingo, 30 de maio de 2010

Som de primeiríssima linha

Quem é rei nunca perde a majestade. E se sempre concordei com o que atesta a maioria, da última madrugada para cá ficou ainda mais clara aos meus ouvidos a diferença de Chrystian & Ralf, a melhor dupla sertaneja do país, para todas as outras.

Como festa, incomparável. Casa cheia, e à mesa, além de Juli e eu, estavam o cunhado, minha irmã, a sogra - é, a dona Judith gosta também de um bom embalo -, algumas amigas. Parei de medir minha consumação da noite na 17ª cerveja, como estou com a CNH suspensa a Juli passou de motorista da vez a motorista de todas as vezes. De entrada, Chrystian & Ralf rasgaram "Sou eu", um dos maiores sucessos. Escutem aí:



Fazia quase 18 anos que não via um show completo dos goianos. O último foi num comício na campanha para prefeito. Uns três anos atrás, fui a Toledo para assistir, mas choveu, a água invadiu o pavilhão de eventos, o lugar ficou sem energia, o show acabou na quinta ou sexta música. Agora, o Vanderlei Costa tratou de atender o pedido da freguesia do Cowboy Saloon e trouxe a dupla ao palco da casa. Ganhou votos, o Vanderlei, embora não seja candidato a nada.

Não há como descrever quão bons e talentosos são os irmãos. Vozes, entrosamento, afinação, tudo inconfundível. Só o que é possível é mostrar um pouco do que fizeram, nesses vídeos. O do sucesso mais marcante da dupla, "Chora peito", saiu pela metade. Àquela altura, o cunhado já havia se apropriado da filmadora, não sei o que ficou esperando para apertar o REC, o lesado. A parte captada:



Quando Chrystian & Ralf subiram ao palco, a multidão já havia apreciado ótimas seleções de música sertaneja.

O show preliminar ficou por conta de uma dupla paranaense, outra ótima escolha do Cowboy. Douglas & Ana Paula. Ótimos, também, nunca os havia ouvido. Ao fim da festa, fui levar um papo com os dois. Douglas, que no visual faz o tipão de cantor de country americano (todo country é americano, acho...), disse lembrar de mim, de um festival de música que venci em Três Barras do Paraná, e isso completou 10 anos neste mês. Faz tempo.

Não ficam devendo nada, Douglas e Ana Paula, aos grandes de hoje em dia. Vale, também, conferir o trabalho do casal no evento de ontem, aqui com "Sua casa caiu", de Fernando & Sorocaba:



O Cowboy Saloon não brinca em serviço quando o assunto é o alto padrão de seus eventos. E ainda movimentou a coisa toda numa parceria com a Capital FM, que sorteou seis pessoas para terem um pá-e-bola com Chrystian & Ralf antes do show, nos camarins, e cada um saiu de lá com um violão autografado como presente. Fiquei sem o meu, paciência. Sorteios, eu só sei promover, não presto para ganhá-los.

Minha sorte foi estar na festa. Foram dois showzaços!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Um camarão na Copa

Para quem vive no interior, as apropriações das conquistas alheias são ainda mais recorrentes que o sentimento ufanista que é característica forte, por exemplo, do meio esportivo. No esporte, sempre faço alguma alusão a isso, estão em voga desde sempre as “nossas” conquistas no futebol, no automobilismo, no vôlei, embora nós não tenhamos conquistado nada, os feitos são de compatriotas distantes.

A lei aplica-se cá em Cascavel. Hoje cedo, por exemplo, encontrei no boteco do café o Bera, lutador de jiu-jitsu, há dias foi quinto colocado no Campeonato Europeu, em Portugal. Um cascavelense foi destaque na Europa, sofreu para vencer dois brasileiros, surrou com alguma facilidade um francês e um ucraniano, perdeu a final de sua chave. Senti-me orgulhoso pela façanha atingida no Velho Mundo por um sujeito que toma café no mesmo boteco que eu.

Eu, que trabalho com automobilismo, tenho me orgulhado bastante, há anos, de feitos que não são meus. Há até uma definição bem grotesca para tal, poupo o texto de sua citação por haver mulheres na parca audiência do BLuc. Pilotos daqui que são destaque no Brasil e no mundo, Jaime Melo, Pedro e David Muffato, Marco Romanini, César Valandro, André Pedralli, Guilherme de Conto, a lista é grande. São cascavelenses, gente nossa, e o que eles fazem de bom é mérito meu, também, é o que chego a pensar, mesmo ciente da incoerência implícita no ponto de vista.

Hoje, tenho a comemorar mais uma conquista. Osires Júnior, parceiro dos bons e nome forte do rádio paranaense, será o ilustre cascavelense na Copa do Mundo de 2010. Embarca em poucos dias para a África do Sul, de lá vai narrar uma penca de jogos do Mundial para uma rede que contempla emissoras de Recife, Aracaju, Curitiba e, segundo ele próprio, “mais umas 50”.

Dobrei com Osires Júnior a editoria esportiva do jornal O Paraná por cinco anos, parceria de sintonia desde o início, embora o meu forte fosse jornal e o dele, rádio. Fez por merecer a duvidosa honra de ser intitulado “camarão”, uma condição que outorgo a poucos parceiros, algo que denota predicados em alto grau. Se você não é um camarão, não desanime, poderá vir a sê-lo num futuro próximo. E também prezo os não-camarões.

Osires, que também assina o site de noticiário esportivo Radiogol, fica desde já incumbido de nos informar quais serão os jogos que vai transmitir, e por qual site poderemos ouvi-lo. Seguramente, farei durante a Copa o mesmo que fiz num clássico no ano passado, até recomendei a opção aqui.

Deixo meus óbvios votos de sucesso ao calvo camarão. Competência para segurar a peteca, tem de sobra. Se vai faturar alto, não sei, arrisco até a dizer, pelo que dele conheço, que sobrepõe o objetivo profissional aos trocados que possa amealhar. E deixa a galera daqui com a sensação de que Cascavel está, sim, bem representada na Copa.

Mania feia essa de se apropriar dos méritos dos outros. Talvez um dia eu também conquiste alguma coisa que dê orgulho a alguém próximo.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Tanto em tão pouco

A chuva tinha dado uma trégua, eu vinha cá para o escritório, como passageiro, com a janela aberta. Foi o que me permitiu ouvir o inusitado. “Menino da porteira”, clássico dos clássicos da boa música sertaneja, em pleno início de tarde de uma segunda-feira carrancuda.

Gargantas afinadas, primeira e segunda voz bem definidas e bem aplicadas, nada de acompanhamento. “À capela”, como pediria Fausto Silva. Foram poucos segundos de privilegiada audição, enquanto o carro ultrapassava uma carroça.

O modesto veículo de tração animal, apinhado de papelão, levava também os dois animados cantores. Um adulto, já devendo ter rompido a casa dos 40, outro franzino, não mais que 15, de boa goela e, logicamente, dono daquela potente primeira voz. Pai e filho, imagino.

A garoa fina que acompanha o vento poderia tornar causticante aquela jornada, que suponho ser cumprida diariamente, talvez diuturnamente. De bate-pronto, intuí que os dois prefeririam estar escutando um CD qualquer abrigados em uma confortável caminhonete. É muito provável que o preferissem. Mas pareciam felizes, ao galope do animal mambembe, cantando “Menino da porteira”. Cantando bem, como poucas duplas ouço cantar, eu que sou um participante ativo, ao meu alcance, do ambiente das músicas sertanejas.

Aqueles versos, escutei poucos deles, saíam carregados de sentimento. Tinham energia. Felizes seríamos se pudéssemos, todos, externar tanta energia positiva quanto os dois catadores de papelão, que só à alta noite deverão retomar seu lar, na minha imaginação um lugar humilde, mas harmonioso.

Faltou uma foto. Achei chato pedir para meu “jarbas” parar, eu vinha de carona. Ou talvez seja melhor compartilhar essas impressões sem foto, para que cada um de vocês possa imaginar aquilo que vi e ouvi.

Vou esperar por um reencontro com os dois animados trabalhadores. A seu modo e sob suas limitações, eles me mostraram naqueles poucos instantes a cara do país com que sonho.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Trouxas, marginais e flanelinhas

E eis que minha carteira de motorista está suspensa. Atingi 28 pontos, na contagem que admite máximo de 20 no espaço de um ano. Um bandido do volante, eu, seria a conclusão mais óbvia.

Talvez não.

Às contas, pois. Sete pontos por “avançar o sinal vermelho do semáforo ou de parada”, mais quatro por “estacionar veículo na sinalização horizontal do transporte coletivo”. Onze pontos, que pago por, primeiro pecado, ter consentido em manter registrado em meu nome um veículo que não é mais meu. O novo proprietário cometeu as infrações. O Detran envia o comunicado à residência do titular do veículo e, segundo pecado, mudei de endereço sem ter comunicado as autoridades. A correspondência oficial foi pro endereço antigo, não vi, não fiz apresentação de condutor.

Ok, em frente com o cálculo. Cinco pontos por “deixar o condutor ou passageiro de usar cinto de segurança”. Não vejo razão mais idiota para lascarem cinco pontos na habilitação de alguém. Um farol queimado, uma velhinha atropelada, a participação num racha – o que acontece aos montes por aqui, ninguém vai para a cadeia por isso –, qualquer coisa assim me faria comemorar uma notificação. Devo ter dirigido sem cinto algum dia, ou dado carona a alguém que não afivelou o cinto. Ou foi a Juli, já que revezamos os dois carros da casa. Em tempo, não participo de rachas. Prefiro estar com mulheres, embora o plural seja indevido diante do fato de eu ser casado. Chegamos a 16 pontos, acompanhem.

Mais três pontos vêm como prêmio por “conduzir o veículo sem os documentos de porte obrigatório”. Pouco a contestar, fui parado numa blitz em 2009, só tinha a via de 2008. O documento da vez havia sido enviado para o endereço do proprietário anterior, enfim, não estava comigo. Os impostos estavam todos pagos. Como meu dever era deixar isso claro ao policial sem ter de ficar contando histórias, chegamos aos 19 pontos na minha contagem. Berlinda.

Aí, vem o castigo por ser cidadão cascavelense – por mais pouco tempo, espero. Três bordoadas, cada uma de três pontos, por “estacionar veículo em desacordo com a sinalização”. Chegamos aos 28 anunciados lá no primeiro parágrafo.

Essas decorrem do injurioso sistema do EstaR. Que existe em toda parte. Para estacionar em determinada área da cidade, você precisa comprar o cartão de 30 minutos, ou de uma hora, marcá-lo e deixar sobre o painel do carro. Se não deixar, leva notificação. Motociclistas, apesar de terem espaços isentos do EstaR em todos os quarteirões onde o sistema vige, ocupam vagas de carros deliberadamente, sem cartões, porque nunca são notificados.

Sem maiores pudores por ser tão repetitivo no tema, peço licença ao prefeito Edgar Bueno e ao presidente da Cettrans, Jorge Lange, para reforçar o coro de milhares. Do modo como (não) é fiscalizado, o EstaR fere até o bom senso. Explicações? Vamos a elas.

Todo motorista notificado pelo EstaR tem prazo de alguns dias – sete úteis, se não me engano – para anular sua notificação, sob taxa de regularização de cinco reais. As notificações não regularizadas são convertidas em multas pelo Detran, de R$ 53,90, cada, e mais aplicação de três pontos na carteira de habilitação. E por que eu deixaria de pagar os cinco reais, sabendo que levaria três pontos na CNH e teria de pagar mais que dez vezes este valor ao Detran?

Se os senhores não têm a resposta, eu a dou. Os agentes da Cettrans, quando notificam um veículo – sempre carros, vans, caminhonetes, nunca motos –, deixam não só a notificação presa ao limpador de parabrisas como também um pequeno adesivo colado no vidro da porta do motorista. Para que ninguém seja notificado sem saber, o que é uma providência coerente. O que ocorre é que, em Cascavel, os ditos flanelinhas tratam de remover dos carros os talões de notificação e os adesivos, sob a prerrogativa de poderem alegar ao motorista que o veículo foi “bem cuidado, tio”, e assim pedirem a contribuição – que na grande maioria das vezes é dada de bom grado.

Concordando ou não com o sistema, por mera questão matemática, não deixaria de pagar os cinco pilas. Que seriam quinze, já que foram três as multas pela infração. Mas, seguramente, fui premiado pela ação dos flanelinhas – e já escrevi sobre isso, aqui – em ocasiões em que não fiz uso do valioso cartão do EstaR.

Ademais, para todo imposto ou taxa que se paga, há um benefício compensatório. É a lenda que nos contam desde a infância. Peço licença a Edgar e Jorge – ou a Bueno e Lange, para tratá-los com a formalidade que seus cargos sugerem – para perguntar qual o benefício traz o EstaR? Vendem-se cartões, recebem-se notificações e as notícias sobre o rombo de caixa na Cettrans seguem atemporais? Também já escrevi, está aqui, algo sobre obrigatoriedades nas áreas de estacionamento regulamentado.

Enfim, vou deixar de testemunhar os livres rachas nas vias públicas por alguns dias. Minha CNH está suspensa e, antes de reavê-la, terei de despender 30 horas do meu já parco tempo em um processo de reciclagem de motoristas oferecido pelo Detran. É regra. Um serviço que, quando criado, imaginei destinado a bandidos do volante, a pessoas que cometem excessos e põem vidas em risco. Ledo engano, também atende trouxas que confiam o próprio nome ao registro de carros que não lhes pertencem, que dirigem ou dão carona a quem não afivela o cinto de segurança, que frequentam as mesmas áreas da cidade que os flanelinhas.

Serão cinco períodos consecutivos, uma semana inteira dedicando cinco horas diárias a lições que, mais importantes que a exigência do cinto, servirão para eu deixar de ser trouxa – tanto por emprestar o nome quanto por continuar vivendo numa cidade onde a ação de flanelinhas é mais eficiente que a dos burocratas da Cettrans. A existência dos flanelinhas, afinal, não é responsabilidade deles.

Tomara que a reciclagem do Detran consista numa turma abarrotada de trouxas e bandidos do volante. Pelo menos, terei um novo público a quem vender os números da rifa do meu fusquinha.

Que, já aviso, só será entregue ao ganhador depois do recibo estar devidamente preenchido e de ter sido feita ao Detran a devida comunicação de repasse da posse.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Foz, a cidade veloz

Hoje, tive de ficar um tempo a mais no aeroporto de Foz do Iguaçu, uma presepada que não entendi, mas que já contei no “Conta-Gotas”. Durante a espera extra, em vez de um chá-de-cadeira, tive um longo bate papo com Marcelo Angeli. Um sujeito atencioso, que para pagar as contas de casa atende como gerente de aeroporto pela TAM, mas para curtir a vida é presidente da Associação de Esporte Motor Dirceu Coimbra Neto, que vem a ser um dos dois clubes de automobilismo da cidade.

Marcelo um tonto por automobilismo; eu, outro. O papo não teria hora para terminar. Ou teria, como teve quando chamaram o embarque. Antes disso, contou-me em detalhes os planos que os automobilistas de lá tentam pôr em prática, a passos lentos e sólidos, para Foz entrar enfim na lista de cidades brasileiras dotadas de autódromos.

Todo entusiasta de alguma causa segue por excelência a tendência de exagerar no tom otimista quando se agarra a expectativas. Comento aqui o que concluí das explanações de Marcelo, já descontando o que possa, devida ou indevidamente, ter considerado exagero da parte dele.

O plano iguaçuense para o automobilismo, em primeiro lugar, é sólido. Motivo pelo qual é lento. Não será cumprido nem em curto e nem em médio prazo, segundo admitiu Marcelo. A ideia toda não se resume à construção de uma pista de corrida. O plano aponta para um complexo esportivo completo, dotado de pistas específicas para arrancada, motocross, velocidade na terra. Kart, não, porque Foz já tem kartódromo, o do Flamengo – onde corri em 1994, fiquei em sexto na segunda etapa da Copa Tarobá e comemorei o fato de não ter rodado em nenhuma das 23 voltas.

As opções de áreas para edificação desse complexo todo são próximas ao lago de Itaipu, o que viabiliza, também, emprego da estrutura planejada para suporte a competições de jet ski (eu nunca soube como se escreve, acho que é mesmo “jet ski”), motonáutica e várias outras modalidades aquáticas – Marcelo citou uma a mais entre os exemplos que deu, não lembro agora. Falou, inclusive, em um evento do Red Bull Air Race, aquela corrida de aviões que o Rio de Janeiro acolheu semana passada. Indicou com o dedo, na tela do computador, algumas opções de “traçados” para a corrida aérea. O tal Google Maps, aliás, é uma mãe, eu nunca o tinha usado.

Hoteis, área para camping e galpões que vão servir como oficinas-modelo, também destinados ao ensino do ofício técnico a jovens da cidade – a função social, revelou-me Marcelo, será contemplada mesmo que na marra. E mais uma série de outros detalhes. Eu estava batendo papo, e não fazendo entrevista, por isso não anotei absolutamente nada. Não queria anotar.

Verdade seja dita, ainda não há nem área definida, oficialmente falando, para o que se espera transformar num complexo automobilístico. Há tempos se fala na construção da praça esportiva na cidade, milhares de carros circulavam, não sei se ainda circulam, com o adesivo “Foz – Autódromo Já!”. Foi nessa questão que levantei o dedo para Marcelo Angeli. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas e a grana pra tudo isso, xará? Sem dever, o “Capitão”, como o apelidei, explanou algumas coisas. Que são problema dele e de quem vai ser parceiro dele na empreitada.

Até para não cair em mais lugares-comuns do que aqueles a que sempre recorro, não me cabe firular sobre o potencial turístico de Foz, sublinhado pelas Cataratas aí de cima, só não mais famosas que as do Niágara, e por Itaipu, maior hidrelétrica do mundo, a da imagem logo aí abaixo. Sua soma ao advento de uma praça automobilística seria suficiente para um estardalhaço homérico, digamos assim.

Alguns minutos de conversa não foram suficientes para Marcelo Angeli tentar me colocar na cabeça todas as ideias que ele e o grupo de abnegados iguaçuenses têm para o automobilismo na cidade. O “Capitão”, ainda assim, não disfarça falsa modéstia. Primeiro, conclusão que eu mesmo já havia tirado, arriscou que o autódromo de Foz vai dificultar bastante as coisas para Cascavel e Londrina, onde também há pistas, já bem mambembes. Depois, falou que, quando a coisa toda estiver concluída, São Paulo vai ter que dançar miúdo para manter a sede do GP brasileiro da Fórmula 1.

É um povo peitudo, esse de Foz que olha para o automobilismo. Resta ver quão longa – ou curta – será a distância do discurso à prática.

Se querem saber, torço por Foz.

Conta-gotas (2)

Azarado que sou, tive problemas com minha reserva no voo de Foz do Iguaçu a Porto Alegre, de onde espero seguir ainda hoje para Canoas, onde vou acomodar meu lindo cadáver antes de seguir para o Velopark, amanhã cedo. O novo autódromo de lá, vou conhecê-lo no fim de semana, é um estrondo, conceitos-modelo, todas essas coisas que a rapaziada presente à inauguração, quase duas semanas atrás, já narrou.

Sei lá que diabos houve com minha passagem. Eu iria de Gol, a companhia, e não o carro, acabei tendo de pegar um TAM. Chegaria à capital gaúcha no fim da tarde; agora, se tudo correr bem, só desço lá no fim da noite. Com é praxe, encostei-me indefinidamente num dos botecos do aeroporto aqui de Curitiba, vendo e pensando tanta coisa inútil que acho possível sair mais uma lista para o “Conta-gotas”.

*** Os voos da TAM são bem melhores que os da Gol. A companhia oferece cervejinha gelada no serviço do bordo. Ganhou o cliente, não dispenso uma cervejinha;

*** Tiozinhos são sempre muito bacanas. O que veio na poltrona ao lado da minha, que queria dormir e não conseguia, dispensou o serviço de bordo. Cutuquei-o a pedir uma latinha e passá-la a mim. Bacana, o tiozinho. Sou muito tímido para pedir bis nessas situações;

*** Esses acadêmicos que dão plantão nos aeroportos e oferecem um exemplar de revista como cortesia a quem passa são uns malas-sem-alça. Já caí nesse conto uma vez, acabei assinando uma revista só para ganhar uma caneca como brinde. Mas a caneca não era a que me foi mostrada, eu receberia uma igual pelo correio. Minha assinatura anual já expirou, nada da caneca, ainda. A revista até que não era das piores, não saí no prejuízo;

*** Os bonequinhos posicionados no buffet aqui do boteco que seguram a plaquinha anunciando o preço do antepasto estão me dando nos nervos. Acho que são imitações de Stan Laurel e Oliver Hardy. Eu adorava assistir a "O Gordo e o Magro", será que ainda passa em algum canal de TV por assinatura? Se alguém souber que sim, faça o favor de informar dia e horário. De qualquer forma, os bibelôs são irritantes, vou pedir mais uma Bohemia antes que saia no braço com os dois;

*** A definição de um leitor meu, dias atrás, para o “Conta-gotas”: é legal, uma maneira de tuitar para quem não tem Twitter. Cacete, porque o dito cujo não cria uma conta no Twitter para me seguir por lá?;

*** Ah, lembrei de uma. Minha gargalhada do dia ficou por conta do Jorge Guirado, num restaurante em Foz. De bom-humor, ou reconhecendo minha cara de quebrado, o “Beeg” ofereceu-se para patrocinar a conta. “Uma nota, por favor”, pediu. “Nota de quê?”, estranhou o garçom. “De falecimento”, retrucou. Francisco Milani não faria melhor;

*** Os táxis aqui de Curitiba, pintados naquele laranja horrível, começam a ganhar parachoques pretos. Parece terem sido reformados em funilarias de fundo-de-quintal;

*** Agora, na TV, ouço que um atentado arrebentou um monte de torcedores num estádio de futebol. Bastante animador, em vésperas de Copa do Mundo. Será que há um “fale conosco” ou coisa do gênero para sugerirmos aos terroristas em qual jogo do Mundial eles devem atuar?

*** A encrenca com a minha reserva me deixou no aeroporto de Foz por 100 minutos a mais do que o previsto. Aproveitei o tempo para um produtivo bate-papo com um cidadão ligado a automobilismo, conheci-o lá. Ficou bem claro que, enquanto algumas cidades – Cascavel, inclusive – se calçam no passado para defender seu automobilismo, outras focam o futuro. É o caminho.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Um fusquinha na brincadeira

Ando com tempo e dinheiro sobrando, então resolvi que vou arrumar para a cabeça mais uma vez. Não fiz a festa do aniversário, que foi hoje, então vou organizar outra que já foi sucesso em outras seis edições - oito, considerando as que foram organizadas por amigos meus.

Não tem data, ainda. Seguramente, um fim de semana qualquer entre julho e setembro. Bom cardápio, música ao vivo de qualidade, cerveja gelada a preço de custo e, de lambuja, algum dos participantes voltando para casa de carro novo.

“Carro novo”, claro, é um eufemismo. Como sempre faço, já que a participação na festa custa alguns dinheiros, uma das vítimas leva para casa um Fusca. Tenho três em vista e defino a compra de um deles até o final do mês. A partir daí, é reservar local, marcar a data, escolher os músicos que vão animar a festa e, claro, fechar a lista de participantes.

Que vai ter 200 nomes, cada um identificado por um número, de 001 a 200, é óbvio, porque não vou fazer 013 A, 013 B e 013 C para atender os que sempre querem concorrer com o número 013. O participante morre com R$ 30 por número. Há também os que entram na lista e não dão as caras no dia da festa. Uns esquecem, outros têm coisa mais importante para fazer, outros não moram em Cascavel e abrem mão do rango de primeira e da boa música apenas pelo gosto de concorrer a alguma coisa. Esses também são aceitos, claro, embora eu prefira que todos apareçam para dar despesa.

O rango, claro, sempre tem destaque para o costelão ao fogo de chão preparado pelo Nardão, o Elizeu, o Rodrigo, o Betinho e outros sócios da rafuagem. Esses tarados mentais se reúnem às cinco da madrugada para começar o preparo da carne e, acreditem, adoram fazer isso. Tem louco para tudo, enfim.

O sorteio é feito por eliminação, com todos os números sendo retirados de uma urna improvisada, um a um, pelos próprios convivas. O último que resta aponta o vencedor. O processo é demoradinho e vale a pena por envolver todo mundo. E deixa clara a lisura da escolha de quem leva o brinde.

Inventei uma palhaçada dessas em 2006. A ideia era arrecadar algum para terminar de montar o quartinho do Luc Júnior, que à época era um volumezinho na barriga da Juli. Lademir Dal Vesco ganhou o Fusca ano 1972. Lucro, não deu, mas a brincadeira foi animada e o eleitorado tratou de exigir outra edição. E assim foi, uma outra, mais outra... Na seguinte, uma Brasília 1977 (essa bonitona aí da foto), o ganhador foi Rony Grelak. Depois, Fabiano Sperafico levou uma Brasília 1980. Fiquei puto, porque minha irmã ficou entre os três “finalistas” e àquela altura eu já estava na torcida por ela.

O quarto, outro Fusca 1972, foi partilhado entre Lademir Dal Vesco – ele, de novo – e o trio formado por Thiago Klein, Ingmar Biberg e Marcelo Kusmirski, uns mortos-de-fome que estavam sem dinheiro e só despenderam 10 pratas, cada, para concorrer. Venderam e racharam, sei lá como resolveu-se. O quinto foi um Fusca 1966 que não tinha maçanetas, portas e capô eram acionados por um controle remoto, e até hoje eu fico imaginando como o dono se vira quando acaba a bateria do carro. Luiz Dall’Agnol, o leiloeiro, ganhou e decidiu que iria pôr o carrinho no jogo de novo – fez a festa, toquei o sorteio a pedido dele e, quando restavam apenas dois números na cumbuca, um deles era o dele próprio, o leiloeiro, que dividiu o prêmio com um vendedor de bebidas da Skol, não sei quem é o sujeito. Essa, não conto como minha.

A última vez que pus um fusquinha na fogueira, um 1971 que a Juli quis segurar em casa de tão bonzinho que era, foi para o Moacir di Camargo. Que, tal qual Dall’Agnol, fez uma festa nos mesmos moldes, promoveu um sorteio, fui lá participar e prestigiar, quem ganhou foi uma senhora chamada Iracema, não a conheço, mas não esqueço a festa que toda a família da dona Iracema fez. Ah, bem lembrado. Quem conhecer a dona Iracema, avise-a que o estepe ainda está aqui em casa.

Enfim, a brincadeira está lançada, mesmo sem data definida e sem o carro estar na minha garagem. Quem abre o preenchimento da lista de números?

(ATUALIZANDO EM 13 DE MAIO, ÀS 17h02)
Acabo de confirmar a festa para o sorteio do fusquinha. Vai acontecer no dia 10 de julho. Caso haja jogo da seleção brasileira nesta data, a gente providencia um telão no local da festa - ainda não defini qual sede de associação vamos tomar para o quiproquó. Embora, em julho, a seleção brasileira vá estar em casa há muito tempo...)

domingo, 9 de maio de 2010

Um pitaquinho na matéria da japa

Gentileza da competente e irredutível Érica Hideshima, japa que faz parte da minha lista de bons colegas de ofício jornalístico, acabei escalado como personagem para uma matéria sobre locutores de autódromo, que o canal SporTV 2 levou ao ar na última sexta-feira, no programa “Linha de Chegada Pista”. Um programa de automobilismo que, como bem observou Jorge Guirado, entendidíssimo em qualquer assunto sobre televisão,é informativo, tem formato dinâmico e se faz atrativo – apesar de eu ter feito parte de uma de suas pautas.

Com duração de aproximadamente cinco minutos, a reportagem destacou Chicão, decano da locução que atua há vários anos na Stock Car, e Murilo Oliveira, o locutor a Fórmula Truck. Eu presto esse serviço ao Porsche GT3 Cup e à GT Brasil, além de eventos pontuais como a etapa brasileira do WTCC, as 500 Milhas de Londrina e as 500 Milhas de Kart da Granja Viana.

Pela quantidade de telefonemas e mensagens que recebi ainda na sexta à noite, via Twitter e MSN, pude avalizar a boa audiência do "Linha de Chegada Pista". À matéria, pois:



Imagino que conseguiria de Érica, se fizesse alguma gestão nesse sentido, um arquivo com o vídeo tal qual foi incluído no programa para aqui postá-lo. Preferi não gerar transtornos e gravei apontando minha câmera amadora para o televisor, o que me livra também de qualquer implicação por conta de direitos autorais. A qualidade do meu método particular é visivelmente ruim, inclusive impede-nos de ver as imagens dos segundos iniciais, que mostram Murilo locutando e pilotando sua motocicleta na pista de Jacarepaguá.

Há quem possa me perguntar, também, por que não entrou, na edição, a resposta que dei sobre cuidados com a voz, descanso em fim de semana de corridas e coisas afins, ao final da matéria. Bem, essa fica para a lista dos grandes mistérios da humanidade.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Para um país

Dia desses, na sessão “passando a limpo” que Juli e eu fazemos ao fim do dia, em que resumimos o que de digno de nota aconteceu no dia de cada um, e que acabei de batizar, ela manteve um já famigerado ar de indignação para um comentário que dela eu jamais esperaria: “Não vão liberar a gente quando tiver jogo do Brasil”.

Quê? Liberar? Jogo do Brasil? Bebeu e não me convidou? Não entendi bulhufas.

Didática, ela explicou, e quem leu até aqui já entendeu, eu é que demoro a pegar na partida. A empresa onde trabalha, uma farmácia de manipulação, vai manter expediente normal de trabalho nos dias e períodos em que a seleção brasileira estiver em campo na Copa do Mundo. Seu patrão, deveras benevolente, prometeu um televisor em alguma das dependências da casa para que todos possam ver as partidas.

As cápsulas, soluções e outras manufaturas deixarão de ser produzidas enquanto, noutro gomo do mundo, atletas que não frequentam nossos cotidianos estarão praticando esportes, alguns deles empreendendo demonstrações sublimes de talento, alimentando seus egos e suas contas bancárias. Na agência onde trabalho, não deverá ser diferente, pautas deixarão de ser negociadas e a produção de materiais específicos será protelada. No seu trabalho, não se iluda, também haverá cortes hipnóticos como esse. Quem não trabalha vai adiar o exercício do ócio para grudar os olhos na televisão, que enoja ao sentenciar a obrigatoriedade de se torcer por bons resultados do Brasil. Chegará o dia em que poderemos torcer por vitórias da Itália, da Nova Zelândia, da Zâmbia, das Ilhas Maurício.

Somos um país que para para ver um jogo de futebol (somos, também, um país atingido na fronte por uma reforma linguística que nivelou o idioma por baixo, que me faz lamentar a correção da construção “para para” e que provavelmente impediu você, caro leitor, de identificar uma ocorrência verbal no título destas linhas mal traçadas). E outro, e mais outro. Algumas poucas exceções hão de me contradizer, sobretudo num mapa quadrilátero lá do Centro-Oeste, gente para quem a apatia de uma nação que decorre de jogos de futebol dá margem a um ritmo frenético nas práticas condenáveis que lesam 190 milhões de patrimônios e a honra da totalidade.

Serei crucificado por isso, mas não classifico como nada a mais que uma tremenda babaquice a devoção que se constata por conta de um torneio esportivo, seja ele a Copa do Mundo, uma Olimpíada, um campeonato de automobilismo ou qualquer coisa do gênero que se queira adir à lista.

Seu salário ou o meu não vão subir um único centavo por um placar futebolístico construído num gramado sul-africano; os índices de imoralidade, violência, a impunidade que devia ser estampada na flâmula verde-amarela não vão cair se os comandados de Dunga – será Dunga, até junho? – obtiverem pontos suficientes para avançar cada fase. Serão vitórias e derrotas daquele grupo de garotos, alguns já nem tão garotos assim, com as quais não terei nada a ver. Se dependessem de mim, não iriam à Copa, sorte deles eu ser um zero à esquerda nesse âmbito de influência.

O que me lembra que não assisti à final a Copa de 2002, a do “nosso” pentacampeonato. Na véspera, eu havia disputado a final de um festival de música na cidade de São Pedro do Iguaçu. Cantei sozinho, empatei em 92,7 pontos com a dupla Sônia & Lilian na primeira posição. O júri optou por não convocar as apresentações para desempate, deu às moças o troféu do primeiro lugar e o cheque um pouco mais valioso que o meu, porque afinal elas teriam de dividir seu saldo em dois, e aplaudi a decisão mais acertada que vi numa competição de critérios tão subjetivos quanto os de um festival de interpretação musical. E meu segundo lugar teve gosto de vitória, uma vitória minha e de ninguém mais, e a Sônia e a Lilian tiveram também a vitória delas. Comemorei até tarde a madrugada, aproveitei a festa até o fim, cheguei em casa com o dia já amanhecendo, não acordei para ver o jogo de futebol na TV, e os brasileiros ganharam dos alemães, uma vitória deles, jogadores, e de ninguém mais.

Não herdei de meu saudoso pai a aversão a espetáculos esportivos, motivo pelo qual eu mesmo estranho as posturas que manifesto a respeito. Trauma de infância, penso. Na Copa de 82, eu no pré-escolar mobral, liberaram-nos para a volta à casa na hora do recreio, eu degustando um sorvete-seco, já tendo no braço aquele reloginho de plástico que vinha porcamente enterrado na massa do doce, e fiquei puto, porque adorava a escolinha – criança tem disso... – e não fazia a mínima ideia de que estava perdendo duas horas de aprazíveis atividades porque, nalgum lugar na Espanha, o time de Zico e Sócrates encaminhava-se de alguma forma para a derrocada no Sarriá.

Somos, como tantos outros, um país que para pela Copa. Somos um país que para por qualquer coisa. Que para de agir, de pensar, de lutar sob qualquer pretexto. Somos uns vagabundos morais, essa é a verdade

Quem bem define essa presepada toda é minha irmã, em sua mensagem pessoal no MSN: “Não acredito como passou rápido esse ano...”

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Conta-gotas (1)

Nada houve de tão especial no fim de semana que mereça de mim mais do que poucas mal traçadas linhas. Pretexto mais do que convidativo para lançar aqui o “Conta-gotas”. Lá vai, pois:

*** A parceria entre Stock Car e Rede Globo é uma piada de extremo mau gosto. Tudo a respeito já foi falado, escrito e tuitado, já é assunto velho;

*** Algumas casas de entretenimento são mais aprazíveis vazias do que quando estão cheias. Todas, eu diria;

*** Superestimar as metas é o modo mais eficiente de se chegar onde realmente se quer;

*** Não dá para esperar muito de um país onde a notícia da semana é a saída de William Bonner do Twitter;

*** Comprar algodão-doce pro Luc Júnior é jogar dinheiro fora, não sei por que insisto;

*** O Chevette “tubarão” não merece a garagem. Neste mês de aniversário, termino de montá-lo para desfilar com ele todos os dias, como planejei quando o comprei há três anos;

*** Apesar da birra geral com a (não) atenção da Globo à Stock Car, todo mundo vai esperar a transmissão da próxima corrida, dia 23 no Rio de Janeiro. E tudo de mau vai ser comentado de novo;

*** Vendo algumas trapalhadas da Justiça brasileira, sinto-me cada vez mais convidado a virar bandido. Mas não teria tanta competência. E nem chego perto do nível de organização necessário ao crime;

*** A farra do ProUni, explicitada na Uningá, acontece no país inteiro. A televisão mostrou apenas um entre zilhões de casos;

*** Eu pensava que não gostava de música eletrônica. Concluí que não a suporto;

*** Por pura burrice, não vou às 500 Milhas de Indianápolis. Meta para 2011: usar devidamente a agenda que ganho todo ano. Confiar na memória para relacionar compromissos dá nisso;

*** Ver um pirralho de três anos conjugando devidamente os verbos no modo subjuntivo é algo que não tem preço. Mas o pirralho tem que se sujar mais na terra;

*** Ainda não consegui concluir se a Copa do Mundo de 2014 vai acontecer nos Estados Unidos ou na Inglaterra.

É bem provável que esse título "Conta-gotas" já tenha sido adotado por alguém em algum canto. Não tem problema. Agora é meu, também.